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sexta-feira, 4 de abril de 2014

A menina que chora

Toda noite eu podia ouvir em meio ao silêncio um choro. Ele vinha de meu banheiro, era um choro fino, não fazia muito barulho, mas eu ouvia cada lagrima cair no chão.
Eu tinha nove anos quando ela me chamou para brincar, me convidou para ir ao banheiro junto a ela,  brincar na banheira.
Mamãe dizia para não sair com estranhos, mesmo que fossem crianças, então recusei o convite da pequena garota de cabelos negros e pele pálida. Após a recusa ela se pôs a chorar, agarrou a barra de seu vestido lilás com força e raiva, e chorou.
Nunca mais a vi, porém sempre a ouvia chorando. Ás vezes eu tento acalma-la, apesar de não poder enxerga-la, eu digo palavras doces como "Ela ainda te ama" "Ela não fez por mal".
1982, Joan era uma garota pequena e frágil, tinha os cabelos negros como a escuridão de uma noite sem luar e a pele branca como o chão num dia de neve. Ela tinha seis anos quando seu padrasto a violentou e a matou de forma brutal. Esquartejada numa banheira, com um vestido de um lilás claro e com lágrimas ainda em seu rosto frio. Sua mãe foi morta quando ela tinha apenas 4 anos, assassinada pelo padrasto e com os restos escondidos num compartimento em baixo da banheira.
Hoje eu ouço ela chorar, eu ouço ela sofrer, ouço ela me chamando para ir ao banheiro com ela. Ás vezes eu vejo o brilhar de sua faca em meu corredor, ás vezes vejo alguém me olhar enquanto durmo.